terça-feira, 13 de julho de 2010

Diário de uma viagem.

Uma quase paixão de verão.
Viajei, não sei ao certo como, mas havia a chancde de sair da cidade e respirar novos ares com um aniversário de uma amiga em uma ilha, praia, sol, natureza...e eu fui.
Despretenciosamente, a viagem foi uma aventura do início ao fim, desde acordar 5 da manhã de um domingo para ir ao porto pegar a embarcação, à maré, às pessoas que tive a oportunidade de conhecer. No entanto, dedico esse post, aos rastafaris: Raul e Irlan.
Raul foi um hippie que tentou me convencer a ser sua esposa e virar rasta, queria por que queria me fazer um rasta de presente e nem preciso dizer a discussão que isso rendeu, explicar que estudo Direito...devia ser "direitinha" para a sociedade para conseguir as mudanças que almejo. Ele por sua vez me retribuiu com diálogo super inteligente e me disse que é tão difícil alguém de fora conversar com eles pelo pré-conceito...e eu além de ir contra os outros, ainda o compreendia...que aquele era o verdadeiro sentido de ser a mulher de alguém, ser companheira e compreensiva. Aquilo martelou minha cabeça. Nós mulheres precisamos de papéis? Eu "talvez" o tenha compreendido, pela facilidade de me relacionar com as mais variadas pessoas, mas e ele..será que me compreendeu?( fica a sensação de que a mulher tem sempre que ser a compreensível, a amiga, o braço direito...).
Irlan, desde que eu cheguei, quando vasculhei meus olhares, encontraram os dele muito facilmente, como dois imãs que se atraem. Ele me deixou muito curiosa, quem seria aquele rapaz jovem com olhar intrigante, que estava em meio a uma galera hippie mas se diferenciava na vestimenta e no estilo. Trocamos olhares várias vezes...até que nos encontramos no lual que teve na beira da praia, quando todas as tribos se encontraram. A falta de iluminação, a música que Thiago(outra figura que conheci) tocava e que depois Irlan fez questão de tomar o violão e me seduzir com sua voz e músicas lindas. Me lembrou cenas de filme. Me lembrou que não sei viver sem paixão. Me lembrou de viver!
Irlan tocava me olhando, seu olhar brilhava em meio a escuridão da noite e a pouca claridade da lua e das estrelas. Como se cada gesto dele, ele fizesse diferente na intenção de me conquistar. Até que ele tocou meus cabelos...arredou pra juntinho de mim, numa magia. Tudo tão cheio de significados, que me fez ver beleza em qualquer coisa que passasse longe de beijos e sexo. Pelo resto da noite eu senti medo, medo de ficar perto dele, medo do que eu poderia sentir, fazer.
Bebi...como era a minha maior distração, passei da conta. Foi tudo o que fiz com o excesso de liberdade que me fora dado, sem ninguém para me impor nada, livre de pre-conceitos, livre de chateações, quaisquer preocupações...era eu e a natureza, um casamento lindo de espirito, mas que eu quase "estraguei" bebendo demais. Dormi, apaguei...nem sei como, mas acordei com outras roupas, limpinha e dentro da barraca e era quase de manhã...a ultima coisa de que realmente me lembrava, era da sombra do rosto dele, dos olhos e da voz. Medoooo.
Levantei e contemplei o nascer do sol, sozinha, em uma ponte direta com Deus. Viva, humana, sentindo e vivendo. Feliz. Sensação de completude. Andei, andei, entrei na água e já cansada voltei pra barraca. Quando levantei de novo, todos acordados, como uma sincronia, sons de vozes, risadas, reggae tocando, o vento perfeito. E indo atrás de café...o vi e não tinha certeza de quem era...mas os olhos me eram familiares. Estava mais uma vez aquele grupo de rastas e 1 único olhar familiar presente. Olhei e olhei...não conseguia não olhar. E resolvi ir pegar sol...dormi no sol, uma puta ensolação, mas eu nem sentia nada. Quando levantei uma amiga disse, amanda o cara do violão está procurando você, disse pra ir até ele. Fiquei aflita, não fui. Quando reunimos de novo na beira da praia, chega um homem de violão e vem na minha direção só pra me comprimentar, dizer que me adorou, sentou-se e começou a tocar e cantar pra mim,(Thiago) era dia ainda, eu o olhei nos olhos e nem sequer me lembrava daquele rosto, ou de qlqr coisa. só do violão. Me esforcei para não ser tãão indiferente. Saímos para almoçar..e quando estou comendo, que levanto o olhar lá estava ele(Irlan), aquele par de olhinhos brilhantes no horizonte, terminei o almoço e fomos caminhando pela praia eu e minhas amigas, quando menos espero ouço: -Amanda(baixinho), olhei na dúvida de ser coisa da minha cabeça...e lá estava ele, de pé me esperando (até agora não sei se ele realmente me chamou, ou se eu senti , por que ninguém ouviu, só eu). Nossa, eu parei e o pessoal seguiu em passos largos para nos deixar a vontade. E a medida que ele se aproximava, a curiosidade de vê-lo de perto aumentava, para tentar reconhecer algo como o sorriso, mas só o olhar me era familiar, ele perguntou:- Você lembra de mim Amanda? e eu lembrei da voz, nem imagino qual tenha sido minha cara de aflição, mas quando ia responder..ele disse: "ontem de noite, violão..."...e eu num suspiro, ah sim( era ele, um alívio de ser ele). E ele ainda disse: "Você lembra de quando eu disse o quanto você é linda? Por que eu lembro de tudo, inclusive desse teu sorriso apaixonante". Nossa, eu fiquei muito sem jeito, caminhamos pela praia no sol quente de matar e conversamos sobre várias coisas, sobre a viagem, sobre o estilo dele de vida, sobre a minha vida. Ele respirava música e liberdade. Me apresentou uma praia deserta lindaa, andamos entre as pedras, fizemos uma pequena trilha de aventura. Ele tomava todo cuidado comigo e eu por mais que quisesse me sentir insegura, não conseguia sentir medo e sem nem saber o porque. Começou a chuver e antes que ficassemos presos com a subida da maré e não conseguissemos mais voltar, voltamos. O mais incrível é que quando voltamos todos nos olhavam como se tivessemos feito uma infinidade de coisas...e tudo o que fizemos foi conversar e trocar olhares, foi quando me dei conta de que não preciso de contatos físicos para me sentir tão bem, aliás sequer o beijar é que tornou tudo perfeito. Ele pegou minha mão e me disse: "Amanda, você é a minha paixão de verão, a paixão que eu procurava e não mais esperava encontrar. Se você não for embora, podemos vivê-la, sem medo e eu sei que você não pertence ao mesmo mundo que eu, então tudo ficará aqui, nessa ilha". Eu nem soube o que dizer, estava muito reflexiva quanto a me entregar a um desconhecido, me apaixonar não era de longe uma opção, ainda me sentia em recuperação masculina. Percebi uma frieza em mim, que me assustou, e disse...paixão de verão é coisa de mulher, voces homens não são sensíveis a isso. E ele disse: "eu sou! E não vou desgrudar de você até que vá embora". e completou: "É muito triste que você vá assim, ficar sem você, não queria que fosse assim" e eu disse friamente que a tristeza era uma escolha, que ele poderia fazer como eu e ser positivo, que poderíamos ainda nos encontrar, e o "Adeus" ser apenas um "até logo", pedi que ele não ficasse triste, ele insistiu ainda que eu batesse uma foto com ele no meu celular e eu recusei inventando desculpas que na verdade eram mais uma vez o medo falando mais forte. Então ele se afastou dizendo já voltar. Fiquei com medo, tanto medo que entrei na barraca e não quis mais sair. Minha amiga tava lá e percebeu, disse que me entendia, mas que ele parecia especial, que eu vivesse já que iria embora, deveria aproveitar. E meu bom senso, misto de prazer e dor e medo de sofrer, medo de viver, me fizeram suar dentro da barraca abafada, pensando e pensando. Olhei pra fora da barraca 2 vezes e ele me olhava me esperando e eu não tive coragem de sair. Quando saí foi para tomar banho e ir embora, todos já estavam prontos para ir. Procurei-o por que ele me pedira para não ir sem antes me despedir. Mas não o encontrei, não sabia se era um alívio, ou triste. Quando o pessoal atravessava a ponte quebrada em malabarismo, eu o vi saindo da água da praia, todo molhado, e acenei umm "tchau" na esperança que ele visse, ele olhou mais uma vez assustado e eu virei de costas e segui, um amigo vinha atrás de mim para atravessar a ponte. Quando senti então aquela mão molhada atrás de mim, virei assustada, era ele ofegante, pedindo licença ao meu amigo para se despedir de mim, me beijou no rosto, abraçou e sentiu meu cheiro no pescoço e disse: "Eu vou te encontrar de novo, nem que eu precise ir a algodoal no fim do mês". E a ultima imagem que guardei dele ficou feito foto na minha mente, o olhar brilhando ao me ver, mas escondendo uma tristeza muito forte por trás, de duas pessoas que se encontraram por acaso e que podem nunca mais voltarem a se ver.
Todo mundo que atravessava a ponte me viu pra trás com ele. E eu não disse absolutamente nada pra ele, calada estava e calada fiquei, sem reação, a ficha não havia caído. Mas sinto que ele me entendeu, sem dizer NADA eu me senti compreendida, pelo olhar, alguém do sexo oposto finalmente compreendeu meu olhar, a essência, alguém do sexo oposto finalmente não tentou me beijar, me tocar em áreas eróticas, nem passou maldades ou segundas intenções.
Afinal de contas, o que será preciso para me conquistar? Fiquei e ainda estou intrigada, pois percebi que não é dinheiro, nem status, nem perfeição estética, nem grandes expectativas de vida, eu só precisava ser compreendida, só preciso disso para ser feliz com alguém. E foi o que me deu medo, o que me assustou, ver que qualquer ser humano que me compreenda tenha a capacidade de me conquistar. Sigo, sem saber como teria sido se tivesse tido coragem de ficar, ficar com ele, viver a paixão, que tinha forças poderosas, isso eu pude sentir, forças que eu até desconheço. Ele me conquistou, com cuidados que já nem acreditava mais existir. E no fim optei em guardar a lembrança dele mais idealizada e bonita, não a de um garoto perdido sem dinheiro, pobre, sem futuro, que consegue viver lavando pratos para comer. Que falava comigo quase 16:00h da tarde sem ter conseguido sequer almoçar ainda e demonstrava certa fraqueza de má alimentação e nem por isso era menos bonito, que vivia com hippies em busca de aventuras, bebidas, longe da sociedade e da civilização, por opção de vida. Mas quem de fato ele era? Eu não sei, mas sinto que o pouco que sei me basta, ele me pediu que não o esquecesse mas o que ele não sabe é que não precisava ter pedido, por que de alguma forma ele conquistou um pedacinho da eternidade na minha memória.
Aprendi mais coisas essenciais nessa viagem e espero que seja a primeira de muuuuuitas que me deixarão memórias maravilhosas, a viagem foi rica de detalhes, de fatos, destaquei o Irlan por que ele mereceu, mas me sinto tão bem, bem por ter voltado pra casa, por ter boas recordações, por ter ido, por ter conhecido. Não sei se voltaria no tempo e faria tudo diferente, se teria tido coragem de viver, pois acredito que certas coisas não precisam ser concretizadas, a magia está exatamente nisso, em imaginar, em idealizar, no gostinho de não ter beijado e se permitir criar um gosto e uma sensação para aquele beijo, caso tivesse acontecido.
Ser valorizada e conquistada como Mulher, não tem preço, ver a admiração de outras pessoas pelo nosso ser feminino, sentir a energia da força da paixão de alguém por nós, engrandece e dá um impulso divino na caminhada da vida. Sem pretenções eu vou seguindo vivendo e me surpreendendo muito mais com a beleza de ser mulher.

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